Fui assistir o filme "O Jogo do Dinheiro"; nome original "Money Monster".
Alguns já devem ter lido a resenha, visto o trailer, enfim. No Brasil, o Filme teve sua estréia na última quinta-feira. Com uma direção impecável de Jodie Foster, seu 4o. filme como Diretora, o Filme não chega a ser marcante, porém, no geral, apesar de confuso em algumas narrrativas, é muito bom.
Parece ter o objetivo de chamar a atenção para alguns absurdos que teimam em rondar o mercado financeiro e, mais especificamente, Wall Street. Também tende a ter mais repercussão e efeito nos Estados Unidos, pois temas que tangenciam Wall Street têm muito mais apelo e sensibilidade lá do que em terras latino-americanas.
Entretanto, cabe resgatá-lo e, principalmente cruzá-lo com movimentos bizarros que, curiosamente, também são recorrentes em terras brasileiras; aliás, seria diferente quando falamos de "mercado financeiro"?
A história traz pro centro do debate, mais uma vez, o protagonismo, ou não, das chamadas "Operações de Alta Frequência", ou apenas"HTF" (High Trading Frequency).
Em tese, e simplificadamente, as chamadas "Operações de Alta Frequência" são "operações comandadas pelos computadores" a partir de algoritmos; o algoritmo é apenas um "código de software" capaz de acompanhar e identificar padrões de forma a maximizá-los. Maximizar aqui significa, é claro, maximizar o lucro. Vários autores e jornalistas financeiros pelo mundo afora têm se debruçado mais e mais sobre tal universo; no Brasil, de maneira ainda escandalosamente incipiente. Por que ? Não sei, talvez falte ainda curiosidade intelectual.
Nos Estados Unidos, Europa e Ásia, o assunto é quase uma obrigação no âmbito do mercado financeiro; o filme capta essa discussão, mas a apresenta mais como pano de fundo.
Acaba por colocar em primeiro plano o efeito mais prático, isto é, as enormes perdas sofridas pelo investidor "normal". Na telona, o sujeito que invade os estúdios do programa financeiro é um dos afetados pelos supostos erros e perdas gigantescas provocados pelas "operações de alta frequência". Por outro lado, e, talvez de forma muito mais criativa; não sei se de parte da Diretora ou do escritor, as perdas produzidas pelas "operações de alta frequência" no filme são relativizadas.
As perdas foram mesmo produzidas pelas "HTF" ou por "digitais humanas"?
Quem, afinal, é o maior responsável? O homem ou o algoritmo?
Quando eu recebi meu diploma de Administração de Empresas pela UFRJ, com o Carlos Alberto Sicupira como paraninfo da turma,, fiz questão de dizer o texto abaixo em homenagem a um dos meus melhores professores de Finanças durante o curso:
"Mais importante do que o cálculo inerente a qualquer problema, é a hipótese e a suposição que você faz acerca dele".
Não havia sido eu o autor dessa frase, e sim o Professor de Finanças da UFRJ a quem homenageava, Moisés Swirski.
Não adianta o algoritmo identificar os padrões, monitorá-los; há certamente, em algum momento crucial, a "digital humana".
Vamos apimentar e ilustrar a discussão?
Peguemos 2 exemplos brasileiros: Vale (SA:VALE5) e CSN (SA:CSNA3)
Como explicar os movimentos desses 2 papéis nos últimos 6-10 meses ? VALE5 foi de 16,00 pra 6,50 em 4 meses......uma queda de 60%......e sobe cerca de 130%, de 6,50 pros mesmos 16,00 no mesmo período de 4 meses....
Como? Como podem os fundamentos mudarem tanto em tão curto espaço de tempo?
O que é algoritmo aqui e a "digital humana"?
O Algoritmo é representado pela LTA e LTB abaixo...
De 6,50 pra cima, de fevereiro até maio, o papel vai respeitando uma LTA...perde a LTA e queda forte...agora, temos uma LTB a ser monitorada.
E o que dizer de CSNA3? Cai de 6,40 pra faixa de 3,00, uma queda de 53% em 2 meses....e sobe cerca de 270%, de 3,00 pra 14,00 respeitando uma LTA.
Onde estão os fundamentos? O que mudou em apenas 3 meses? Presidência, produto, market-share? O que? Mais uma vez...Os algoritmos apenas identificaram os padrões...LTA abaixo no movimento de alta...depois, perda da LTA...e queda forte até agora...LTB é balizadora do movimento de queda até agora...a ser monitorada...
Onde o homem entra nisso tudo?
O Filme "O Jogo do Dinheiro" dá sua versão...
Eu tenho a minha...e pode ser resumida numa palavra tão simples como corriqueira...especulação...alavancagem.
Muitas vezes vemos e ouvimos "analistas" falarem em "múltiplos"..."múltiplos aqui"..."múltiplos ali"... Múltiplos...múltiplos de quê?
Ah...deve ser por isso que os papéis de bancos não evaporaram até agora.
Qual a sua versão do "Jogo do Dinheiro"?
VALE5, Diário, escala logarítmica